Quando se trata de educação com qualidade, a referência é o modelo finlandês considerado o melhor do mundo durante muitos anos. Por isso, o acompanhamento das suas mudanças e resultados é constante.
No ano 2015 muitas notícias e comentários encheram as páginas da web sobre o novo currículo nacional previsto para ser adotado formalmente nas escolas da Finlândia em agosto de 2016, porém, em prática desde há dois anos.
A reforma envolve o trabalho multidisciplinar com foco na
aprendizagem baseada em fenômenos (eventos do mundo real observáveis),
conhecida como "phenomenon learning".
Esse modelo é similar ao conhecido por Aprendizagem Baseada em Projetos, objeto de estudo na minha tese de doutorado, suportado por uma metodologia que integra distintas áreas do saber e promove a colaboração entre os aprendizes e professores.
No "phenomenon learning" o
processo instrucional utilizará projetos para estudar algumas matérias
tradicionais de forma holística, de maneira interdisciplinar, integradora e
significativa. As disciplinas e o conteúdo perdem espaço para as competências e
os alunos ganham um papel mais ativo no processo de ensino - aprendizagem.
Esta
profunda mudança tem sido testada nos dois últimos anos e desde sua divulgação
gerou serias controvérsias. Há quem considera o modelo extremamente errado
porque provocará a desaparição das aulas tradicionais ao serem substituídas
pela resolução de projetos. Mas há os que defendem o modelo e entre eles eu, ao
considerar que é necessário experimentar uma mudança na educação, sem medo de
falhar e com disposição de aperfeiçoar o modelo junto aos próprios alunos
acompanhando as mudanças sócio-culturais e tecnológicas atuais.
Vejo grande relação desta
reforma com o modelo proposto por mim em post anteriores. Imagino o
inicio do processo de ensino-aprendizagem tendo como ponto de partida o
contexto histórico de um período definido. Para o ensino fundamental I, esse
contexto histórico pode ser a história da criança, que envolve seus pais,
datas, lugar de nascimento, e outros itens de interesse como clima, geografia
do lugar (parques, praças, etc). Assim, vai se introduzindo ao pequeno
aprendiz nos conteúdos tratados nas disciplinas tradicionais, porém não
delimitadas por nomes nem objetivos e sim integradas num único cenário, neste
caso: “a história da criança”. Para o ensino fundamental II e ensino
médio, o contexto histórico poderia ser apresentado por períodos de tempo a ser
trabalhado num projeto que integre várias áreas do saber como: religião,
ciência, tecnologia, cultura, etc. assim abrindo espaço a subprojetos que
aprofundem uns numas áreas e outros em outras, permitindo aos alunos a seleção
segundo seus interesses, etc.
Vejo a reforma do modelo de
educação na Finlândia como o inicio da ruptura do paradigma tradicional de
ensino-aprendizagem. A mudança tão esperada chegou e espero que seja imitada,
aperfeiçoada e customizada por muitos outros países.
No Brasil, o Ministério da
Educação (MEC) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) abriu chamada pública relativa ao programa Professores para o Futuro III, do governo federal. A
iniciativa vai permitir a capacitação de educadores brasileiros em
universidades da Finlândia. Certo que o Brasil tem muitos problemas que
resolver no quesito educação, mas concordando com Marshall McLuhan “a lentidão
das mudanças no sistema educacional frente à velocidade das mídias eletrônicas
é uma razão também* para se preocupar”.
Torço então para que a
iniciativa “Professores para o Futuro III” dê certo, e sejam formados muitos
professores que implantem e multipliquem essa experiência nas escolas
brasileiras.
Herbert Marshall McLuhan -
destacado educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense.
Conhecido por vislumbrar a Internet quase trinta anos antes de ser inventada.
Famoso também por sua máxima de que O
meio é a mensagem e por ter cunhado o termo Aldeia Global. McLuhan
foi um pioneiro dos estudos culturais e no estudo filosófico das transformações
sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações.