sábado, 9 de abril de 2016

"Phenomenon learning" - O modelo educacional da Finlândia


Quando se trata de educação com qualidade, a referência é o modelo finlandês considerado o melhor do mundo durante muitos anos. Por isso, o acompanhamento das suas mudanças e resultados é constante.
  
No ano 2015 muitas notícias e comentários encheram as páginas da web sobre o novo currículo nacional previsto para ser adotado formalmente nas escolas da Finlândia em agosto de 2016, porém, em prática desde há dois anos. 

A reforma envolve o trabalho multidisciplinar com foco na aprendizagem baseada em fenômenos (eventos do mundo real observáveis), conhecida como "phenomenon learning".
  
Esse modelo é similar ao conhecido por Aprendizagem Baseada em Projetos, objeto de estudo na minha tese de doutorado,  suportado por uma metodologia que integra distintas áreas do saber e promove a colaboração entre os aprendizes e professores.  

No "phenomenon learning" o processo instrucional utilizará projetos para estudar algumas matérias tradicionais de forma holística, de maneira interdisciplinar, integradora e significativa. As disciplinas e o conteúdo perdem espaço para as competências e os alunos ganham um papel mais ativo no processo de ensino - aprendizagem.

Esta profunda mudança tem sido testada nos dois últimos anos e desde sua divulgação gerou serias controvérsias. Há quem considera o modelo extremamente errado porque provocará a desaparição das aulas tradicionais ao serem substituídas pela resolução de projetos. Mas há os que defendem o modelo e entre eles eu, ao considerar que é necessário experimentar uma mudança na educação, sem medo de falhar e com disposição de aperfeiçoar o modelo junto aos próprios alunos acompanhando as mudanças sócio-culturais e tecnológicas atuais.


Vejo grande relação desta reforma com o modelo proposto por mim em post anteriores. Imagino o inicio do processo de ensino-aprendizagem tendo como ponto de partida o contexto histórico de um período definido. Para o ensino fundamental I, esse contexto histórico pode ser a história da criança, que envolve seus pais, datas, lugar de nascimento, e outros itens de interesse como clima, geografia do lugar (parques, praças, etc).  Assim, vai se introduzindo ao pequeno aprendiz nos conteúdos tratados nas disciplinas tradicionais, porém não delimitadas por nomes nem objetivos e sim integradas num único cenário, neste caso: “a história da criança”. Para o ensino fundamental II e ensino médio, o contexto histórico poderia ser apresentado por períodos de tempo a ser trabalhado num projeto que integre várias áreas do saber como: religião, ciência, tecnologia, cultura, etc. assim abrindo espaço a subprojetos que aprofundem uns numas áreas e outros em outras, permitindo aos alunos a seleção segundo seus interesses, etc.

Vejo a reforma do modelo de educação na Finlândia como o inicio da ruptura do paradigma tradicional de ensino-aprendizagem. A mudança tão esperada chegou e espero que seja imitada, aperfeiçoada e customizada por muitos outros países. 

No Brasil, o Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) abriu chamada pública relativa ao programa Professores para o Futuro III, do governo federal. A iniciativa vai permitir a capacitação de educadores brasileiros em universidades da Finlândia. Certo que o Brasil tem muitos problemas que resolver no quesito educação, mas concordando com Marshall McLuhan “a lentidão das mudanças no sistema educacional frente à velocidade das mídias eletrônicas é uma razão também* para se preocupar”

Torço então para que a iniciativa “Professores para o Futuro III” dê certo, e sejam formados muitos professores que implantem e multipliquem essa experiência nas escolas brasileiras. 

 Herbert Marshall McLuhan - destacado educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense. Conhecido por vislumbrar a Internet quase trinta anos antes de ser inventada. Famoso também por sua máxima de que O meio é a mensagem e por ter cunhado o termo Aldeia Global. McLuhan foi um pioneiro dos estudos culturais e no estudo filosófico das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações.  
 


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Paradigmas educacionais





Certamente para criticar alguma coisa a premissa inicial é conhecer o que vai ser criticado. Na pratica fazemos uso da grande habilidade que a natureza deu-nos: a capacidade de criticar todo desde que nascemos. Mas num assunto tão delicado como a educação é preciso entender  a evolução dos modelos de escola, antes de criticar ou simplesmente opinar. 

Sobre eles, recomendo a leitura do trabalho do especialista em desenvolvimento curricular, o Ph.D . Bartolomeu Varela, publicado em junho de 2013 “Evolução dos paradigmas educacionais e novas tendências pedagógicas”. 

O autor apresenta seis paradigmas pedagógicos ou modelos de escola mais importantes na evolução da educação nos dois últimos séculos. Ele descreve para cada paradigma, questões sobre a ação educativa, currículo, relação professor - aluno, processo didático, avaliação, materiais didáticos e tipo de gestão.

Estes paradigmas são:

  • A escola tradicional
  • A escola nova
  • A escola ativa
  • A escola conducionista
  • A escola construtivista
  • A escola pós- construtivista

Também apresenta e discute sobre as abordagens didático - pedagógicas na atualidade:

  • Abordagem para a resolução de problemas
  • Abordagem baseada em projeto
  • Abordagem por competência 

Concordo com Bartolomeu sobre o principal desafio da pedagogia por competências em contexto escolar:  substituir esse saber morto por um saber vivo. Ou seja, um saber que permita resolver problemas da vida real, tornando assim ao indivíduo um ser competente. 

Acho muito interessante a analise que o autor faz sobre a Pedagogia da Integração Curricular. Ele apresenta vários aspectos desta pedagogia:
  • As diferentes modalidades: abordagem curricular por disciplina, a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade.
  • As diferentes formas de integração curricular: identificação de situações ou problemas que demandam conhecimentos de várias disciplinas, reagrupamento de disciplinas em temas integradores, criação de uma nova disciplina a partir de objetivos comuns a várias disciplinas.
  • Estratégias de integração curricular: Portafólio digital, mapa conceitual, estudo de caso, exposição ou mostra de competências, métodos indutivo e dedutivo, abordagem por projeto e por pesquisa. 
     (Estes conceitos são claramente apresentados aqui)
 
Sobre o trabalho multidisciplinar na escola, afortunadamente é possível falar de um exemplo pratico e com foco na aprendizagem baseada em projeto e problemas. É o caso da reforma curricular elaborada em 2015 pela Finlândia e que será comentada no próximo post.
 
Mais informação sobre modelos educacionais, pode ser consultada nos trabalhos de autoria do Ph.D . Bartolomeu Varela: manuais e textos educativos